segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aparências democráticas

Vivemos tempos dos grandes espetáculos e enganações. O que vemos na televisão e no cinema contamina de maneira cruel a vida real.
Hoje temos escolas nas quais os professores de tão irrisório o pagamento fingem que recebem salários. Como contrapartida, muitos professores fingem que ensinam. Os estudantes, por sua vez, são obrigados a fingir que estudam. E, o pior, muitos chegam mesmo a fingir que aprendem. Para desespero deles mesmos na hora de ter que disputar uma vaga no mercado de trabalho.
Mas o contágio dos fingimentos democráticos vai mais longe. Fomos obrigados a criar uma Comissão Especial de Acompanhamento da Aplicabilidade das Leis Específicas da Billings e Guarapiranga.
A Comissão surgiu de proposta consensual na audiência pública que debateu o tema na Assembleia Legislativa, no dia 19 de maio, passado. Pois, passados cinco anos após aprovação da lei da Guarapiranga e dois anos da lei da Billings são observados problemas de gestão entre Estado e municípios que fazem com que a legislação não saia do papel.
Ou seja, num verdadeiro teatro, os deputados estaduais, muitos deles bem intencionados, criam leis que protegem nossas águas e nossos mananciais. Passam cinco anos e neste meio tempo envolvem no grande teatro da preservação ambiental os prefeitos e vereadores de todos os municípios que dependem das represas para sua sobrevivência. E no final, se monta outro grande evento e se cria uma Comissão Especial.
O que falta? Infelizmente, não podemos responder com todas as palavras e temos que também participar do teatro da democracia e afirmar que talvez falte empenho político.
Quem sabe nós, cidadãos e eleitores também não tenhamos nossa parte de culpa ao aceitar que a farsa continue e não se tome uma providência urgente para colocar um fim neste fingimento democrático.
Que se transformou numa grande peça que contamina a escola que finge que educa nossos filhos, que passa pelo posto policial que finge que vai investigar os crimes que denunciamos e que atinge as leis que deveriam proteger a Billings e a Guarapiranga e a população do entorno, mas que ficam apenas no papel.
No teatro, pelo menos, os atores e diretores, se organizam a partir de um texto, ensaiam, montam cenários e nos emocionam com uma realidade concreta, criada a partir do empenho e do talento de um grupo de artistas dedicados.
Nem isso conseguimos com esse simulacro de democracia que tentam nos impor. As leis que protegem as represas Guarapiranga e Billings estão lá. Seria, para comparar, o equivalente ao texto de uma peça teatral. Os atores interessados existem. São os milhões de moradores que têm suas vidas vinculadas ao entorno das represas.
Falta o empenho dos diretores, ou seja, o Poder Público, representado pelos governadores, deputados, prefeitos e vereadores. Falta, também, que nós, da plateia, detentores dos nossos títulos eleitorais deixemos claro que estamos cansados deste fingimento democrático e evitar reeleger quem nos engana de maneira irresponsável e sistemática.

Adonis Bernardes, presidente do PDT de Santo André

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